terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O pássaro

O pássaro

Eu estava cá quieto no meu galho, quando ouvi farfalhar de folhas na floresta. Eu pensei que fosse um animal de grande porte como um leão ou uma girafa. Mas qual nada, era um lobo de pele escura, pra lá da meia-idade, um lobo bem grande, um lobo faminto, desses que poderia devorar um ser humano de uma vez só. Parecia estar com muita fome mesmo. Pois podia se ouvir os roncos roucos de sua enorme barriga. Eu cá no meu galho de jatobá, tremi de medo, só me aliviei um pouco, ao pensar que os passarinhos não fazem parte do cardápio de um lobo... Só se estivesse muito faminto. Mas não tinha o que temer, estava protegida pelas folhas e galhos da árvore, que se erguia majestosa na floresta.
Aquele lobo conhecia bem a floresta a minha volta, cada árvore, cada trilho de estrada, os caminhos e os atalhos. Eu fiquei a observá-lo do alto do galho, percebendo que ele tramava alguma coisa, logicamente para acabar com sua fome. Ele foi andando pelos caminhos da floresta para chegar mais perto da casa dos lenhadores, onde lograva pensar arranjar algo para encher sua barriga. Eu pensei comigo: ”um lobo com fome é capaz de tramar muitas coisas para comer alguma coisa.”.
O lobo foi andando e parou perto de uma pequena árvore grossa e se escondeu atrás dela, logo que viu uma pequena menina, por volta de uns oito anos, com um gorrinho vermelho na cabeça. A menina ia alegre a cantarolar, uma música, que não entendi bem o que era. Só vi e ouvi direito quando estava menina chegou perto de encruzilhada que passava onde a floresta é mais densa. A menina parou na encruzilhada e se pôs a olhar de um lado para outro como alguém que não sabia direito qual caminho tomar para ir adiante se o da direita ou da esquerda. O lobo logo percebeu e escondido suavizando um pouco a sua voz que lhe aconselhar e gritou lá detrás da árvore:
__ Tome o caminho da direita, é o mais curto e te leva bem rápido para a casa de seus amigos!
__ Minha, mãe me disse para não seguir o conselho de estranhos e sempre tomasse o caminho mais limpo, não parasse no caminho para conversar com nenhum estranho, levasse bem depressa esses docinhos para a minha adorada vovó, que vive sozinha em sua casinha no meio da floresta. Ela me disse também que nesta floresta tem um lobo muito mau que roubam as criancinhas para fazer mingau!
A menina continuou pelo caminho mais limpo para ir à casa de sua vovó. Mais limpo, mas com certeza o mais longo. O lobo se mostrar se embrenhou numa velocidade espantosa correndo pelo atalho e não pude entender de imediato o que ele intentava. Mas a curiosidade que sempre me leva a lugares que nem me imagino, fez com que eu o acompanhasse de longe, voando de galho em galho. Ele correu muito e chegou numa casinha pequena coberta de sapé, numa clareira da floresta. E cheio de manhã arremedou uma voz infantil e pôs-se a chamar:
__ Vovozinha!Vovozinha querida! Venha abrir a porta para a sua netinha que lhe traz deliciosos docinhos!
A velha que parecia que não enxergava muito bem por causa da idade, abriu a porta devagarzinho, e nem teve tempo de correr, pois o lobo faminto pulou sobre ela e a engoliu de uma só bocada. Eu nunca havia pensado que um lobo poderia engolir uma pessoa até que visse com esses meu olhos de passarinho que isso era possível. Mas parece que não foi suficiente para ele, ele queria mais. Tanto é que o ouvi falando sozinho, com sua voz rouca e grave: “Agora só falta a meninha, com aquele lindo gorrinho vermelho. Hoje decerto poderei encher completamente a minha barriga e depois de tudo ainda dormir um bocado nesta cama, desta velha deliciosa”.
Não me conformei com o que vi, fiquei sem saber o que fazer, quis chamar os meus amigos voadores, mas pensei logo, que não resolveria nada, pois não poderia convencê-los. Todos eles tinham muito medo de lobos. E pensei logo que só poderia com esse lobo algum enorme animal ou... Um caçador. Mas onde haveria um caçador que poderia salvar a menina que está inocente de tudo, se encaminhando para o seu destino fatal! Percebi que não poderia perder tempo, voaria bem alto, e olharia para baixo para ver se encontraria algum caçador... Fiquei alguns minutos voando... Vi longe uma fumaça e fui para lá. Com sorte, eram caçadores que punham água a ferver em uma panela..
Pensei em um jeito de atrai-los para a casa da vovozinha. O único jeito era cantando. Aliás, esse é o maior talento dos passarinhos cantarem, alegrar as pessoas... E então voei para uma árvore perto e comecei a entoar meu canto.
Os caçadores pareciam ter bom gosto e logo um foram falando para os outros que um passarinho com um canto maravilhoso estava pousado num galho próximo. Gritavam uns para os outros: “Olha um Uirapuru! Olha um Uirapuru!”. E iam chegando mais perto. Eu não estava gostando daquilo. Mas se a minha atitude podia salvar uma criancinha que estava prestes a ser devorada por um lobo, certamente continuaria nesse plano. Eles se puseram a me seguir, e deram dentro de poucos minutos em uma trilha que ia dar, na casa da vovozinha que fora devorada pelo lobo. Ouviram um estardalhaço que a menina fazia lá dentro correndo, passando por debaixo de mesa, cama, derrubando moveis...
Resultado os caçadores mataram o lobo a tiros, mas a vovozinha não teve mais jeito para ela. E ao contrário do que dizem por aí, morreu mesmo após ter vivido uma vida virtuosa. d dentro correndo, passando por debaixo de mesa, cama, derrubando móveis, na trilha que ia dar, na casa da vovozinha que fora devorada pelo lobo...

Vem coração

Vem coração
Entre pedras, no deserto da ilusão.
Serpente fêmea
A buscar emoção.
Eu te procuro em lugares públicos,
Mas sei que você está a salvo no meu coração.
Assim quem fala
Não muda de tom nem quando
Faz uma canção.
Se eu falo de paz
É da paz de seus braços,
Se eu quero calor,
É o calor de seu corpo.
Não sei o porquê de tanta ilusão,
Não sei por que há tanto tempo
Já teimo nessa ilusão.
Não sei por que
Você não sai do meu coração.
Você é como sangue na minha veia,
Como o mar a soçobrar e a bater
Nas rochas,
Está sempre a me tocar
Eu não sei mais o que fazer,
Nem se há alguma coisa a fazer,
Não sei se o tempo fará te esquecer.
Sei que você é muito importante para mim.
O passado não te deixa de lado e o presente não te faz ausente.

Geraldo Henrique de Mesquita.
31/12/07




Canção de paz

Eu fiz essa canção
Pra você cantar no seu violão
E lembrar que a vida passa ligeira
Minha amiga, o sonho faz parte da vida.
Com muita força de vontade seus sonhos persiga
A felicidade encontrará
A cada dia
Cada etapa de sua vida
Seja repleta de alegria

Às vezes pensamos que tudo é tão difícil
Mas basta crer.
Tudo se torna possível
É lutar e conseguir
Faça amigos por onde ir

Você já ouviu dizer
Primeiro o trabalho, depois o prazer.
Mas a vida passa
E não há quem possa dizer que não
Onde está a razão
De assim viver?
Pra que chorar
Quando se pode sorrir?
Pra que espinhos
Quando se tem a flor?
No coração vai o amor,
Na boca belas palavras por toda parte.
Bom dia! Boa tarde!
Se você que ser alguém
Diga: Bom dia! Tudo bem!

Geraldo Henrique de Mesquita
28/06/2007

Meu amor eu quero o beijo seu
Na noite fria de ilusão sem solidão
Eu quero o corpo seu
Sem pedir perdão
Eu quero o coração teu

-
As vezes eu pergunto
Se viverei sem teu amor
As vezes eu me perguntou
Quanto tempo precisará passar
Para você ver que eu te amo de verdade

--
O que vai precisar ser
O que já foi
Não poderá ser
Por mais que eu queira
Eu quero que tudo não
Perca no tempo
O frescor da novidade
O calor da ocasião

--
Vai, vai
Carinho meu
Buscar
O que a saudade levou
O que ficou
Não importa mais
Bela garota, linda moça,
Menina minha
Carinho que sobeja em abundância
Quem poderá dizer
Que eu não te amei desde a primeira vez
Que a vi
Quando eu senti
O calor do seu corpo
O pulsar de seu coração
Quem poderá dizer que a sua sedução
Não foi suficiente para fazer apaixonar meu coração
Mulher de pele morena
Voz doce e suave
O que tens a me dizer
O que podes me levar a fazer
Pela força do seu amor
Pelo calor de seu corpo
Se já não sei o que será de mim agora
Serei com o barco que não encontra o cais?
Serei como a noite que não encontra o dia?
Serei mais um apaixonado, que não sabe o que diz?

Não,
Serei eu como a vaga que alevanta o mar
Como o sereno que a noite cai
Molhando a verde relva
Serei como o abraço amigo que aquece o corpo
Serei como a chuva que molha a terra seca
Como a luz da lua que ilumina a escura estrada
Um passaporte para o infinito
Um minuto de sua vida
O minuto em que sua vida vai mudar
O aconchego da cama
O calor da comida no seu estômago
A voz que ao longe mostra o caminho
Em meio de tantas aventuras e desventuras
Serei caminho certo a seguir.
Fruta madura no pé
Amor que se pode ter fé


Que se pode querer de um amor tão distante
De uma noite que nunca chega ao fim
Como poderei dizer que te amo
Se não tenho coragem de olhar em seus olhos e dizer a verdade
Mas por amor posso fazer o possível para tornar o amor realizável
Entre nós dois
Aonde queiras que eu vá
Eu vou te buscar
O que não saberei dizer
Uma palavra de amor
Uma solução provisória
Para nosso amor
Eu quero você
E talvez tenho perdido
Muitas oportunidades
Para dizer o amor que sinto
Por você
Aqui não saberei dizer
Do tamanho de meu amor por você
Não é apenas desejo
Por uma mulher muito bonita
É muito mais do que isso
E um sonho que procuro por todas as vias tornar possível
Um sonho que a realidade tenta não realizar
Já joguei muito tempo pela janela
Já tentei, já lutei
Busco ter a melhor solução para esse amor meu
O que adianta amar uma mulher tão linda
Se não se sabe se poderei tê-la junto de mim
Para viver uma vida junto com ela
Construir um mundo só nosso
Quem poderá me dizer como fazer para que ela seja a minha mulher
Se já é meu amor
Se já é quem toma conta de meu coração
Não poderei pensar que não poderei tê-la
Eu não sei o que poderei fazer
Eu que a desejo
Eu que a amo demais
Que tenho vontade de abraçar seu corpo
Beijar seu corpo
Buscar o calor de seu corpo.

Geraldo
2007

A interiorização da métropole

A chegada da família real ao Brasil e a interiorização da Metrópole.


O período que vai de 1808, data em que chega ao Rio de Janeiro o Príncipe Regente D. João VI, até 1821, ás vésperas da proclamação da Independência por D. Pedro I, é rico para analisarmos a questão da interiorização da metrópole luso-brasileira e o abastecimento da corte carioca.
Haja vista que com a vinda de D. João VI para o Brasil que embora projeto antigo foi executado na iminência da entrada das tropas napoleônicas as cortes de Lisboa, houve um aumento expressivo na população do Rio de Janeiro e mudanças substanciais no que concerne à administração da América Portuguesa, isto é, a interiorização da metrópole. Isso se deu graças ao imenso aparato administrativo que se transferiu ao Brasil juntamente com a família real. O Brasil, a menina dos olhos do império Português, fonte de artigos de comércio, com bons portos, que hora se abria a nações amigas, por decreto de D. João VI(diga-se principalmente a Inglaterra), fortaleceu a vocação comercial, a necessidade da produção de alimentos, pessoas que servissem a D. João VI em sua administração. É de notório saber que estando cá, no Brasil, grande parte ou quase toda a parte dos funcionários reais, havendo também necessidades de fortalecer o domínio da América Portuguesa, era preciso para o bom sucesso do desenvolvimento e manutenção das forças imperiais, que se administrasse corretamente o ultramar, para não haver prejuízo e perca das riquezas do gérmen embrionário da futura nação Brasileira, que lançaria seus primeiros passos aos auspícios do governo do Imperador do Brasil, D. Pedro I.
D. João VI soube juntamente com seus ministérios criar os elementos necessários ao bom andamento da administração territorial das províncias do Brasil, concentraram no Rio de Janeiro os órgãos responsáveis pela administração, bem como nomeou governadores para as províncias, fomentou o comércio, através de leis que permitiam uma sobrevivência e expansão do comércio, do abastecimento interno, da navegação de cabotagem, que fazia as ligações porto a porto brasileiro, isto com o decreto imperial de 1815, que determinava que a navegação de cabotagem só poderia ser feita por navios ou barcos brasileiros.
O poder se estabeleceu fortemente no centro sul, nas províncias de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. O sul das Minas Gerais fornecia gêneros indispensáveis ao abastecimento da corte, bem como fazendas da região do Rio São Francisco, São Paulo e Rio Grande. Muitos foram os tropeiros que se enriqueceram com o transporte e comércio com a corte estabelecida no Rio de Janeiro, ao passo que foram feitas muitas construções, que serviram para abrigar mui confortavelmente membros da nobreza, órgãos administrativos, para auxiliar a manutenção da ordem e da justiça, como cadeias, fórum, etc. Em pouco tempo com a melhoria e os progressos contínuos, o fortalecimento do aparelho administrativo imperial, o crescimento econômico, os rendimentos provindos da cobrança de impostos superaram aos de Portugal, o que era reforçado pela presença do imperador e da corte no Brasil. O Brasil sem dúvida naquele momento dispunha de mais recursos que Portugal, tinha mais meios de se desenvolver e por isso merecia uma grande atenção do Imperador. A isso podemos chamar de interiorização da metrópole, a metrópole, estava de lei em Portugal, mas de fato estava no Brasil sua possessão ultramarina mais rica e que para completar abrigava a figura do Imperador, nobreza e seus administradores por D. João nomeados.
D. João VI usou das distribuições de mercês, da divisão de áreas territoriais em jurisdições entregues a governadores, do controle alfandegário entre outros expedientes para intensificar a presença da lei e da ordem nas províncias.
A presença da corte no centro-sul criou necessidades, possibilidades comerciais e vitais (alimentos, roupas, utensílios, etc.). O transporte fomentou o desenvolvimento brasileiro podendo-se dizer que a metrópole se entranhou pelo sertão afora controlando, gerindo, consumindo, desenvolvendo e tornando possível direta ou indiretamente todas as atividades econômicas.
As tropas da moderação, como se intitula um dos textos aqui analisados foram responsáveis pelas ligações terrestres e do abastecimento, em larga medida responsável pela interiorização da metrópole. Afinal o estado se fazia presente ora no papel de consumidor destes produtos, taxando-os, aproveitando as estradas usadas pelos tropeiros, de alguma forma mantendo alguma proteção militar que de algum modo tornasse mais tranquilo itinerário dos funcionários do governo, dos tropeiros, aventureiros, etc.
Como teria acontecido se não houvesse estes tropeiros? Se não houvesse a descoberta de ouro nas Minas Gerais? Se D. João VI não viesse se estabelecer no Rio de Janeiro com todo o seu aparato administrativo? Se não houvesse pessoas intrépidas como os paulistas que desbravaram caminhos, descobriram ouro, amansaram índios, tornaram os caminhos mais conhecidos?
Pode haver várias respostas para essa pergunta, mas podemos responder que talvez não se levasse tanto em conta o Brasil, as cortes portuguesas talvez não encontrassem tanto lucro para seus empreendimentos, idéias, projetos de expansão (tudo isso dependendo de vários “se”). Mas o fato que esses fatores que foram realidade contribuíram para a interiorização da metrópole e o interesse no Brasil.
Não se pode desprezar nessa análise o comércio, seus sujeitos como promovedores da integração da corte com o interior, como também sobremaneira responsáveis pela espraiação dos limites do Brasil. O Brasil, ou o que seria o Brasil só faz sentido com uma força e um desejo que uma os seus habitantes que só pode ser um governo central e um sentimento de pertencimento.
Pensamento análogo dirá que um órgão não sobreviverá fora do corpo, isolado, sem forças, sem energia, sem sangue, sem um conjunto que o coordene.
Os dois textos se coadunam a medida que dizem que a interiorização da metrópole só foi possível, com a abertura de estradas, o fortalecimento do comércio e os meios de subsistência, bem como a distribuição do poder, e o controle Real. O abastecimento que se desenvolveu aos poucos, contudo continuamente integrou o centro-sul e tornando-o o eixo central de todo o governo imperial donde emanavam ordens, projetos e anseios, como a conquista da Guiana, a dominação da província Cisplatina patrocinados pelo espírito empreendedor real, que embora nem tudo o que se planejou tenha dado certo não deixou de ser tentado. As riquezas do centro-sul sobrepujavam as do Nordeste brasileiro cujos engenhos, plantações e criações não conseguiam superar nem de longe o poderio econômico do sul. Adiante analisarei as questões que faziam com que o pensamento dominante destes dois polos brasileiros divergia, porque o nordeste não comungou com a idéia da independência e foi preciso luta para aceitar a independência do Brasil (seu desligamento das cortes de Lisboa). Quais os interesses que estavam por detrás disso tudo?
É certo que o centro-sul no contexto econômico se desenvolveu mais graças a proximidade com o Rio de Janeiro, se beneficiou com essas benesses. A pecuária, as plantações e a extração do ouro e dos diamantes geravam riquezas superiores a de outras províncias.
O desenvolvimento do Nordeste não era patrocinado e nem recebia as benesses desse ir e vir dos caminhos e das riquezas do centro, pelo menos não no grau elevado do centro-sul. Pelo contrário seus portos estavam ligados mais facilmente com os de Portugal, era bem mais fácil o caminho marítimo para Portugal, do que os difíceis caminhos por terra que ligavam ao Rio de Janeiro, além do mais a região nordeste contava com uma grande costa que beneficiava grandemente o comércio marítimo. A viagem para Portugal e o comercio estabelecido com os portugueses era mais vantajoso e mais fácil. Por aí se vê que o Nordeste se interessava mais em ser uma extensão ultramarina do próprio Portugal, melhor dizendo se interessava em ser co-irmão, ligado com Portugal do que se separar deste país ao invés de se estabelecer unicamente por sua conta e risco.


Geraldo Henrique de Mesquita

Poesia

Artigo
Papel e participação de Caxias, na regência e no império de D. Pedro II: A guerra e a política.

Quando se ouve falar o nome de Caxias, único Duque nativo do Brasil, que recebeu muitas honras e glórias durante a sua vida e mais ainda depois de sua morte, pensa-se em um cidadão cumpridor da lei, ordeiro, organizado, cheio de escrúpulos, num líder nato, uma pessoa acima de qualquer suspeita que conseguiu tudo o que alcançou em sua vida graças a muito trabalho, disciplina, por honra e mérito de sua bravura militar e de seu desempenho político. Argumentam muitos que Caxias era avesso a política, que dela participava unicamente por dever cívico, como bom patriota que era, que ocupava desgostosamente os cargos políticos e somente o fazia em nome do dever e de sua leal devoção a este país e a seu imperador.
Para averiguarmos a autenticidade dessas informações, e a verdade construída ao redor de sua pessoa, será preciso analisar os fatos, sua biografia, artigos escritos a respeito dele e usar de senso crítico para analisar as situações em que estivera envolvido. A história, sem dúvida nenhuma, não é um jogo de lógica, onde tudo segue um padrão, onde os fatos acontecem sucedaneamente, seguindo a um motor que governa os fatos de acordo com suas causas e conseqüências. É preciso ver, que quem escreve a história são os homens, e estes são movidos por paixões, escolhem o que escrever, o que ocultar e projetam suas opiniões em seus escritos. Daí temos que observar o contexto da obra, quem escreveu, porque escreveu, suas intenções, as informações que tinha disponível, suas fontes, o lugar social onde ocupava, etc.
O autor que escolhi ou tive a oportunidade de ler seu livro foi Affonso de Carvalho, homem que teve uma carreira militar, política e literária, tendo escrito livros sobre personagens brasileiros como Caxias e Olavo Bilac, também foi político. Viveu entre os anos de 1897 e 1953, fez muitas viagens pelo Brasil e até na Europa em plena 2ª guerra mundial. Como escritor de poesias escreveu obras que tinham o parnasianismo como modelo literário. No seu livro: “Caxias”, ele busca enaltecer e valorizar este que se tornou um grande mito e herói do Exército Brasileiro, tendo como honra de se tornar a data de seu aniversário natalício, como o dia do soldado. Affonso de Carvalho deixa seu estilo na obra que escreve: fala apaixonadamente deste personagem nacional, o mito que é sinônimo de alguém que sempre apesar de qualquer dificuldade ou imprevisto está sempre disposto a cumprir o seu dever e disciplinadamente cumprir as tarefas que lhe são incumbidas.
Caxias era filho do Brigadeiro Francisco de Lima e Silva e de D. Cândida de Oliveira Belo. Seus avô e bisavô do lado paterno eram militares, os irmãos de seu pai também eram. Caxias cresceu e viveu entre militares. Aos 5 anos de idade já era Cadete, honra a que tinha direito filhos de militares. Alguns biógrafos dizem que o seu talento de soldado era inato. Sobre isto Adriana Barreto de Souza diz[1]:
“Mas a condição para o surgimento dessa vocação inata é esquecimento da própria história. Caxias nasceu em 1803, foi um militar do século XIX e para entender sua trajetória é preciso recuperar as especificidades da carreira nessa época. Ter sido cadete aos 5 anos não era sinal de seu caráter especial. Era uma honraria a que tinham direito, por lei, os filhos de nobres ou militares, exigindo-se neste último caso que o pai fosse major da ativa ou coronel da reserva. Outros privilegiados a ela tiveram acesso inclusive com menos idade”.[2]
A partir daí podemos perceber que esses elementos familiares e também políticos ajudaram muito a Caxias em sua carreira militar e política.
Seu pai Francisco de Lima e Silva era um dos generais que comandavam as forças militares no Rio de Janeiro quando da abdicação de D. Pedro I e fora escolhido como um dos regentes da Regência Trina Provisória assim organizada por o herdeiro do trono D. Pedro II, contar com apenas 5 anos, naquele tempo. Mesma idade com que Luiz Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias assentara praça como cadete. A sua família certamente fazia parte da elite dos oficiais do Império Brasileiro e por esse fato descontando os parentes liberais Caxias era o mais conservador de todos participando do partido conservador até o final de sua vida. Caxias galga até os mais altos postos políticos do Império Brasileiro. Foi por 2 vezes chefe do Gabinete de ministros do Império tendo a honra e a possibilidade de escolher os homens que deviam ocupar os mais altos postos políticos abaixo do Imperador. Sendo que o Imperador tinha o poder de concordar ou não com os nomes por ele escolhido. Fora senador cargo que exerceu por algum tempo lado a lado com seu pai que também fora senador, embora de partidos contrários. Foi um homem sem dúvida alguma de prestígio e capacidade organizacional. As sua redes clientelares sem margem de erro algum, ajudaram-no a se manter nos cargos que ocupou sem falar também a sua habilidade política. Seus biógrafos em sua maioria insistem na afirmação de que ele detestava a política, mas convenhamos como alguém que não gostava de política se viu a sua vida toda envolvido com ela tomando posições, ocupando cargos, usando de sua influência a favor de seu partido. Isso não pode ser desmentido, assim como, salvo os exageros, Caxias era um homem excepcional chefe militar com capacidade inegualável, comparado a grandes chefes militares de outros países em outros tempos. Ele não teve nenhum formação acadêmica militar específica para desenvolver esse talento, sua escola foi a família, seus parentes, tios, pai que os viu atuando e foram seus professores. Ele aprendeu na prática. Por ser um homem cauteloso que gostava de planejar tudo em seus mínimos detalhes, estava preocupado com as possibilidades reais de seu exército vencer nas campanhas militares das quais participou, sempre encontrou êxito nestes projetos. Ele despertou inveja, cobiça e descaso em alguns casos. Inveja do Conde D'Eu que ambicionava ser nomeado pelo imperador, seu sogro, Comandante em Chefe das forças Brasileiras no Paraguai, embora para o Conde D'Eu ainda tenha sobrado os restos da batalha: perseguir os últimos insurgentes e guerreiros, organizar as prisões e outras tarefas de menos destaque.
O Exército Brasileiro quando do Inicio da Guerra do Paraguai era totalmente desorganizado, não possuía sequer um conjunto de regras próprias a serem seguidas, era mal armado e organizado. Coube a Caxias, como grande chefe militar organizá-lo e armá-lo. Affonso de Carvalho, tenta mostrar o que Caxias fez com o exército brasileiro em termos de melhoria. Ele diz que as peste e doenças matavam mais que a bala do inimigo, que nos acampamentos militares grassava a maior falta de higiene e desorganização. Os generais e chefes militares criavam até pequenos animais como galinhas e porcos nos acampamentos. Os soldados não tinham um uniforme adequado, as montarias estavam desfalcadas da indumentária completa, faltavam ferraduras, cabeçadas, esporas, etc. Além disso o abastecimento de alimentos para a tropa era irregular. Por falta de pastagens adequadas os cavalos morriam de fome. Caxias fora rigoroso e apesar de nesta feita contar com mais de sessenta anos de idade encontrou disposição para percorrer os acampamentos cotidianamente a fim de observar se estavam sendo cumpridas as suas resoluções e aplicar as medidas necessárias e as punições que fosse preciso executar nesta grande massa que era o exército brasileiro de então.[3]
“cousas de organização, disciplina e hygiene forma os primeiros remédios aplicados pela medicina do Marquez ao saneamento geral do bizarro campo de Tuyuty.
Até chefes de alta hierarchia, cujas unidades não se apresentavam asseiadas e instruídas nas revistas iniciaes, experimentaram o reactivo de sua justiça imparcial, ao lado dos que se estimulavam, deleitosos com as recompesnas pelo dever cumprido.”
Sem dúvida as campanhas do Rio da Prata, foram as mais difíceis e as que garantiram maior honra e respeito a Caxias, que antes delas era conde e depois dela alcançou o título de Duque além disso foi uma vez mais chefe do gabinete dos ministros do Império Brasileiro. Ele lutou juntamente com o exército brasileiro em três grandes frentes uma de cada vez: Uruguai, Argentina e Paraguai. Os chefes militares do Uruguai e da Argentina que tencionavam aumentar seu poder e expandir seus domínios foram difíceis de combater. Foi preciso persistência, disciplina e perseverança além de muitas vidas humanas para serem barrados. No entanto, nem Oribe nem Rosas dá o trabalho que deu Solano Lopez notadamente pelo que significavam em seus países. Oribe e Rosas são denominados “Caudilhos”, são pequenos chefes militares que encontraram apoio em outros que comungaram de suas idéias de expansão e domínio das províncias do Prata, mas que após algum tempo até porque não tinham grandes recursos nem um exército tão grande foram sendo desbaratados pelos opositores. Além do mais a guerra que era imposta por estes dois “Caudilhos” cada um por sua vez se assemelhava a guerrilhas, a ofensivas rápidas e fulminantes. Era ataques violentos seguidos de fuga para se organizar e atacar de novo.
Já Solano Lopez por se tratar de um militar acostumado a lidar com o povo, e a ser amado, respeitado, ou temido pelo povo de seu país que sempre lhe dava soldados para compor seu exército, que por várias vezes parecia estar extirpado e se reformulava como que por milagre, graças ao gênio militar que sem dúvida este grande Caudilho possuía. No entanto esse vigor e essa afronta de Lopez ao vizinhos do Prata, não foram suficientes para sobrepujar as forças aliadas comandadas pelo Conde de Caxias que soubera organizar, administrar, motivar e mostrar o caminho da vitória aos aliados.
Se a vitória tivesse sido de Lopez com certeza o mapa das Américas poderia ser diferente e o Brasil certamente não contaria com boa parte de seu território, principalmente o extremo sul.
Na política Caxias ocupou o seu primeiro cargo politico como presidente da província do Maranhão logo após sufocar as revoltas conhecidas como “Balaiada “e “Cabanagem”. Caxias usou de estratégias militares condenadas por seus opositores como uma rede de intrigas para desorientar os revoltosos. Foi usada também outra estratégia que mais tarde também seria usada na campanha da contra a Farroupilha: Ele buscou aliados entre os revoltosos oferecendo anistia á aqueles que quisessem depor as armas e com a ajuda destes perseguiu os demais e imobilizou toda a revolta. A batalha decisiva foi na cidade de Caxias, no Maranhão, onde foi a luta decisiva contra os revoltosos. Depois de finda a campanha, Luiz Alves de Lima e Silva recebeu o título de Barão em reconhecimento aos seus trabalhos valorosos ao Brasil. Caxias era o nome da cidade do Maranhão onde se deu a luta decisiva contra os revoltosos. Ao término da campanha ele ainda ficou na região como presidente da província do Maranhão, um cargo de grande prestígio.
Outra grande campanha militar da qual Caxias participou foi a Farroupilha que durou vários anos .
Depois de finda a campanha da Farroupilha houve por bem segundo a visão dos políticos do Brasil de então, nomear Caxias presidente da província do Rio Grande.
Caxias ficou escrito na história brasileira como o grande líder das forças militares que conseguiu acabar com rebeliões e revoltas do período regencial da historia brasileira e do Império de D. Pedro II, mas seu nome foi elevado ao posto de grande herói do Exército Brasileiro somente no século XX, durante o governo de Getúlio Vargas. Anteriormente Osório tinha um maior espaço dentre as comemorações do Exército Brasileiro,mas diante da necessidade de um Estado forte, que se propunha após 1930, seu nome pareceu mais adequado ao papel de Mito e Herói Brasileiro.
O historiador Celso Furtado diz que Caxias se prestava mais a esse papel.[4]
“Após a revolução de 1930, a imagem que se evocava de Caxias passou a destacar cada vez mais sua autoridade e suas qualidades de chefe militar a serviço de um estado forte. A importância do culto a Osório foi diminuindo, até que, na década de 1940, ele foi deslocado para a posição de “Patrono da cavalaria”. Isso não ocorreu sem que surgissem discordâncias entre os próprios militares. Prevaleceu no entanto o peso da autoridade.”

Outro lado que poucos conhecem no aspecto da personalidade de Caxias, é o Caxias poeta que chegou a escrever alguns versos que dedicara a sua filha Paulita que são de bom gosto poético e apesar de estarem escritos no álbum de sua filha, Affonso de Carvalho entende que eles se referem ao antigo amor de caxias Ângela Garzón, que conhecera antes de se casar com Ana Luiza, a mãe de seus filhos. Deste casamento advém 2 filhas e um filho. O menino morre ainda em tenra idade.
Pode-se concluir que Caxias foi um grande brasileiro que soubera agarrar com unhas e dentes as oportunidades que lhe surgiram pela frente e que longe de ser alguém que não têm nenhum defeito ou falha serviu bem ao governo do país em seu tempo e a sua memória é valorizada principalmente pelo Exército Brasileiro por ser um nome que elevou e deu orgulho aos membros deste Exército trazendo a vitória nos seus empreendimentos.
Os historiadores que têm o compromisso com a verdade, devem estar acima das paixões e saber ler nas entrelinhas das biografias e histórias oficiais os fatos como foram e ouvir todas as representações que se fazem destes mesmos fatos. O fato é que a história que se sobrepõe as demais é a historia dos vencedores, aos vencidos só resta muitas das vezes lamentar e pensar nos “ses” da História.
É inconcebível que leiamos qualquer coisa sem pensar e criticar, mas é preciso entender que a historiografia segue um caminho que parece ser o que mais interessa aos ouvidos e aos olhos de quem a patrocina. Se Caxias não foi o grande mito, que tanto os livros e a historiografia oficial quer oficializar, cabe a nós investigar sem contudo esquecer da importância dos mitos para a constituição e a manutenção de uma nação.

Referências Bibliográficas:
CARVALHO, Afonso. Caxias. Rio de Janeiro. Biblioteca do Exército,1976.

FURTADO, Celso. “Culto ao Mito”. Artigo publicado na Revista História Viva de Abril de 2004, nas páginas 46 e 47.

SOUZA, Octaviano Pereira de. “História da Guerra do Paraguai” Citado por Affonso de Carvalho. Pag.. 236 do Livro “Caxias”.

SOUZA, Adriana Barreto de.“O exército na consolidação do Império: um estudo sobre a política militar conservadora”. in Revista História Viva na Edição de Setembro de 2004.

SOUZA, Adriana Barreto de. Revista História Viva, Setembro de 2004. Pag.30.“O homem por trás do monumento Duque de Caxias.”








Geraldo Henrique de Mesquita.
[1] Adriana Barreto de Souza é historiadora e autora do livro: “O exército na consolidação do Império: um estudo sobre a política militar conservadora”. O trecho foi retirado de seu artigo publicado na Revista História Viva na Edição de Setembro de 2004.
[2] “O homem por trás do monumento Duque de Caxias.” in revista História Viva, Setembro de 2004. Pag.30.

[3] Octaviano Pereira de Souza. “História da Guerra do Paraguai” Citado por Affonso de Carvalho. Pag.. 236 do Livro “Caxias”.
[4] Celso Furtado. “Culto ao Mito”. Artigo publicado na Revista História Viva de Abril de 2004, nas páginas 46 e 47.

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