terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O pássaro

O pássaro

Eu estava cá quieto no meu galho, quando ouvi farfalhar de folhas na floresta. Eu pensei que fosse um animal de grande porte como um leão ou uma girafa. Mas qual nada, era um lobo de pele escura, pra lá da meia-idade, um lobo bem grande, um lobo faminto, desses que poderia devorar um ser humano de uma vez só. Parecia estar com muita fome mesmo. Pois podia se ouvir os roncos roucos de sua enorme barriga. Eu cá no meu galho de jatobá, tremi de medo, só me aliviei um pouco, ao pensar que os passarinhos não fazem parte do cardápio de um lobo... Só se estivesse muito faminto. Mas não tinha o que temer, estava protegida pelas folhas e galhos da árvore, que se erguia majestosa na floresta.
Aquele lobo conhecia bem a floresta a minha volta, cada árvore, cada trilho de estrada, os caminhos e os atalhos. Eu fiquei a observá-lo do alto do galho, percebendo que ele tramava alguma coisa, logicamente para acabar com sua fome. Ele foi andando pelos caminhos da floresta para chegar mais perto da casa dos lenhadores, onde lograva pensar arranjar algo para encher sua barriga. Eu pensei comigo: ”um lobo com fome é capaz de tramar muitas coisas para comer alguma coisa.”.
O lobo foi andando e parou perto de uma pequena árvore grossa e se escondeu atrás dela, logo que viu uma pequena menina, por volta de uns oito anos, com um gorrinho vermelho na cabeça. A menina ia alegre a cantarolar, uma música, que não entendi bem o que era. Só vi e ouvi direito quando estava menina chegou perto de encruzilhada que passava onde a floresta é mais densa. A menina parou na encruzilhada e se pôs a olhar de um lado para outro como alguém que não sabia direito qual caminho tomar para ir adiante se o da direita ou da esquerda. O lobo logo percebeu e escondido suavizando um pouco a sua voz que lhe aconselhar e gritou lá detrás da árvore:
__ Tome o caminho da direita, é o mais curto e te leva bem rápido para a casa de seus amigos!
__ Minha, mãe me disse para não seguir o conselho de estranhos e sempre tomasse o caminho mais limpo, não parasse no caminho para conversar com nenhum estranho, levasse bem depressa esses docinhos para a minha adorada vovó, que vive sozinha em sua casinha no meio da floresta. Ela me disse também que nesta floresta tem um lobo muito mau que roubam as criancinhas para fazer mingau!
A menina continuou pelo caminho mais limpo para ir à casa de sua vovó. Mais limpo, mas com certeza o mais longo. O lobo se mostrar se embrenhou numa velocidade espantosa correndo pelo atalho e não pude entender de imediato o que ele intentava. Mas a curiosidade que sempre me leva a lugares que nem me imagino, fez com que eu o acompanhasse de longe, voando de galho em galho. Ele correu muito e chegou numa casinha pequena coberta de sapé, numa clareira da floresta. E cheio de manhã arremedou uma voz infantil e pôs-se a chamar:
__ Vovozinha!Vovozinha querida! Venha abrir a porta para a sua netinha que lhe traz deliciosos docinhos!
A velha que parecia que não enxergava muito bem por causa da idade, abriu a porta devagarzinho, e nem teve tempo de correr, pois o lobo faminto pulou sobre ela e a engoliu de uma só bocada. Eu nunca havia pensado que um lobo poderia engolir uma pessoa até que visse com esses meu olhos de passarinho que isso era possível. Mas parece que não foi suficiente para ele, ele queria mais. Tanto é que o ouvi falando sozinho, com sua voz rouca e grave: “Agora só falta a meninha, com aquele lindo gorrinho vermelho. Hoje decerto poderei encher completamente a minha barriga e depois de tudo ainda dormir um bocado nesta cama, desta velha deliciosa”.
Não me conformei com o que vi, fiquei sem saber o que fazer, quis chamar os meus amigos voadores, mas pensei logo, que não resolveria nada, pois não poderia convencê-los. Todos eles tinham muito medo de lobos. E pensei logo que só poderia com esse lobo algum enorme animal ou... Um caçador. Mas onde haveria um caçador que poderia salvar a menina que está inocente de tudo, se encaminhando para o seu destino fatal! Percebi que não poderia perder tempo, voaria bem alto, e olharia para baixo para ver se encontraria algum caçador... Fiquei alguns minutos voando... Vi longe uma fumaça e fui para lá. Com sorte, eram caçadores que punham água a ferver em uma panela..
Pensei em um jeito de atrai-los para a casa da vovozinha. O único jeito era cantando. Aliás, esse é o maior talento dos passarinhos cantarem, alegrar as pessoas... E então voei para uma árvore perto e comecei a entoar meu canto.
Os caçadores pareciam ter bom gosto e logo um foram falando para os outros que um passarinho com um canto maravilhoso estava pousado num galho próximo. Gritavam uns para os outros: “Olha um Uirapuru! Olha um Uirapuru!”. E iam chegando mais perto. Eu não estava gostando daquilo. Mas se a minha atitude podia salvar uma criancinha que estava prestes a ser devorada por um lobo, certamente continuaria nesse plano. Eles se puseram a me seguir, e deram dentro de poucos minutos em uma trilha que ia dar, na casa da vovozinha que fora devorada pelo lobo. Ouviram um estardalhaço que a menina fazia lá dentro correndo, passando por debaixo de mesa, cama, derrubando moveis...
Resultado os caçadores mataram o lobo a tiros, mas a vovozinha não teve mais jeito para ela. E ao contrário do que dizem por aí, morreu mesmo após ter vivido uma vida virtuosa. d dentro correndo, passando por debaixo de mesa, cama, derrubando móveis, na trilha que ia dar, na casa da vovozinha que fora devorada pelo lobo...

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