terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Poesia

Artigo
Papel e participação de Caxias, na regência e no império de D. Pedro II: A guerra e a política.

Quando se ouve falar o nome de Caxias, único Duque nativo do Brasil, que recebeu muitas honras e glórias durante a sua vida e mais ainda depois de sua morte, pensa-se em um cidadão cumpridor da lei, ordeiro, organizado, cheio de escrúpulos, num líder nato, uma pessoa acima de qualquer suspeita que conseguiu tudo o que alcançou em sua vida graças a muito trabalho, disciplina, por honra e mérito de sua bravura militar e de seu desempenho político. Argumentam muitos que Caxias era avesso a política, que dela participava unicamente por dever cívico, como bom patriota que era, que ocupava desgostosamente os cargos políticos e somente o fazia em nome do dever e de sua leal devoção a este país e a seu imperador.
Para averiguarmos a autenticidade dessas informações, e a verdade construída ao redor de sua pessoa, será preciso analisar os fatos, sua biografia, artigos escritos a respeito dele e usar de senso crítico para analisar as situações em que estivera envolvido. A história, sem dúvida nenhuma, não é um jogo de lógica, onde tudo segue um padrão, onde os fatos acontecem sucedaneamente, seguindo a um motor que governa os fatos de acordo com suas causas e conseqüências. É preciso ver, que quem escreve a história são os homens, e estes são movidos por paixões, escolhem o que escrever, o que ocultar e projetam suas opiniões em seus escritos. Daí temos que observar o contexto da obra, quem escreveu, porque escreveu, suas intenções, as informações que tinha disponível, suas fontes, o lugar social onde ocupava, etc.
O autor que escolhi ou tive a oportunidade de ler seu livro foi Affonso de Carvalho, homem que teve uma carreira militar, política e literária, tendo escrito livros sobre personagens brasileiros como Caxias e Olavo Bilac, também foi político. Viveu entre os anos de 1897 e 1953, fez muitas viagens pelo Brasil e até na Europa em plena 2ª guerra mundial. Como escritor de poesias escreveu obras que tinham o parnasianismo como modelo literário. No seu livro: “Caxias”, ele busca enaltecer e valorizar este que se tornou um grande mito e herói do Exército Brasileiro, tendo como honra de se tornar a data de seu aniversário natalício, como o dia do soldado. Affonso de Carvalho deixa seu estilo na obra que escreve: fala apaixonadamente deste personagem nacional, o mito que é sinônimo de alguém que sempre apesar de qualquer dificuldade ou imprevisto está sempre disposto a cumprir o seu dever e disciplinadamente cumprir as tarefas que lhe são incumbidas.
Caxias era filho do Brigadeiro Francisco de Lima e Silva e de D. Cândida de Oliveira Belo. Seus avô e bisavô do lado paterno eram militares, os irmãos de seu pai também eram. Caxias cresceu e viveu entre militares. Aos 5 anos de idade já era Cadete, honra a que tinha direito filhos de militares. Alguns biógrafos dizem que o seu talento de soldado era inato. Sobre isto Adriana Barreto de Souza diz[1]:
“Mas a condição para o surgimento dessa vocação inata é esquecimento da própria história. Caxias nasceu em 1803, foi um militar do século XIX e para entender sua trajetória é preciso recuperar as especificidades da carreira nessa época. Ter sido cadete aos 5 anos não era sinal de seu caráter especial. Era uma honraria a que tinham direito, por lei, os filhos de nobres ou militares, exigindo-se neste último caso que o pai fosse major da ativa ou coronel da reserva. Outros privilegiados a ela tiveram acesso inclusive com menos idade”.[2]
A partir daí podemos perceber que esses elementos familiares e também políticos ajudaram muito a Caxias em sua carreira militar e política.
Seu pai Francisco de Lima e Silva era um dos generais que comandavam as forças militares no Rio de Janeiro quando da abdicação de D. Pedro I e fora escolhido como um dos regentes da Regência Trina Provisória assim organizada por o herdeiro do trono D. Pedro II, contar com apenas 5 anos, naquele tempo. Mesma idade com que Luiz Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias assentara praça como cadete. A sua família certamente fazia parte da elite dos oficiais do Império Brasileiro e por esse fato descontando os parentes liberais Caxias era o mais conservador de todos participando do partido conservador até o final de sua vida. Caxias galga até os mais altos postos políticos do Império Brasileiro. Foi por 2 vezes chefe do Gabinete de ministros do Império tendo a honra e a possibilidade de escolher os homens que deviam ocupar os mais altos postos políticos abaixo do Imperador. Sendo que o Imperador tinha o poder de concordar ou não com os nomes por ele escolhido. Fora senador cargo que exerceu por algum tempo lado a lado com seu pai que também fora senador, embora de partidos contrários. Foi um homem sem dúvida alguma de prestígio e capacidade organizacional. As sua redes clientelares sem margem de erro algum, ajudaram-no a se manter nos cargos que ocupou sem falar também a sua habilidade política. Seus biógrafos em sua maioria insistem na afirmação de que ele detestava a política, mas convenhamos como alguém que não gostava de política se viu a sua vida toda envolvido com ela tomando posições, ocupando cargos, usando de sua influência a favor de seu partido. Isso não pode ser desmentido, assim como, salvo os exageros, Caxias era um homem excepcional chefe militar com capacidade inegualável, comparado a grandes chefes militares de outros países em outros tempos. Ele não teve nenhum formação acadêmica militar específica para desenvolver esse talento, sua escola foi a família, seus parentes, tios, pai que os viu atuando e foram seus professores. Ele aprendeu na prática. Por ser um homem cauteloso que gostava de planejar tudo em seus mínimos detalhes, estava preocupado com as possibilidades reais de seu exército vencer nas campanhas militares das quais participou, sempre encontrou êxito nestes projetos. Ele despertou inveja, cobiça e descaso em alguns casos. Inveja do Conde D'Eu que ambicionava ser nomeado pelo imperador, seu sogro, Comandante em Chefe das forças Brasileiras no Paraguai, embora para o Conde D'Eu ainda tenha sobrado os restos da batalha: perseguir os últimos insurgentes e guerreiros, organizar as prisões e outras tarefas de menos destaque.
O Exército Brasileiro quando do Inicio da Guerra do Paraguai era totalmente desorganizado, não possuía sequer um conjunto de regras próprias a serem seguidas, era mal armado e organizado. Coube a Caxias, como grande chefe militar organizá-lo e armá-lo. Affonso de Carvalho, tenta mostrar o que Caxias fez com o exército brasileiro em termos de melhoria. Ele diz que as peste e doenças matavam mais que a bala do inimigo, que nos acampamentos militares grassava a maior falta de higiene e desorganização. Os generais e chefes militares criavam até pequenos animais como galinhas e porcos nos acampamentos. Os soldados não tinham um uniforme adequado, as montarias estavam desfalcadas da indumentária completa, faltavam ferraduras, cabeçadas, esporas, etc. Além disso o abastecimento de alimentos para a tropa era irregular. Por falta de pastagens adequadas os cavalos morriam de fome. Caxias fora rigoroso e apesar de nesta feita contar com mais de sessenta anos de idade encontrou disposição para percorrer os acampamentos cotidianamente a fim de observar se estavam sendo cumpridas as suas resoluções e aplicar as medidas necessárias e as punições que fosse preciso executar nesta grande massa que era o exército brasileiro de então.[3]
“cousas de organização, disciplina e hygiene forma os primeiros remédios aplicados pela medicina do Marquez ao saneamento geral do bizarro campo de Tuyuty.
Até chefes de alta hierarchia, cujas unidades não se apresentavam asseiadas e instruídas nas revistas iniciaes, experimentaram o reactivo de sua justiça imparcial, ao lado dos que se estimulavam, deleitosos com as recompesnas pelo dever cumprido.”
Sem dúvida as campanhas do Rio da Prata, foram as mais difíceis e as que garantiram maior honra e respeito a Caxias, que antes delas era conde e depois dela alcançou o título de Duque além disso foi uma vez mais chefe do gabinete dos ministros do Império Brasileiro. Ele lutou juntamente com o exército brasileiro em três grandes frentes uma de cada vez: Uruguai, Argentina e Paraguai. Os chefes militares do Uruguai e da Argentina que tencionavam aumentar seu poder e expandir seus domínios foram difíceis de combater. Foi preciso persistência, disciplina e perseverança além de muitas vidas humanas para serem barrados. No entanto, nem Oribe nem Rosas dá o trabalho que deu Solano Lopez notadamente pelo que significavam em seus países. Oribe e Rosas são denominados “Caudilhos”, são pequenos chefes militares que encontraram apoio em outros que comungaram de suas idéias de expansão e domínio das províncias do Prata, mas que após algum tempo até porque não tinham grandes recursos nem um exército tão grande foram sendo desbaratados pelos opositores. Além do mais a guerra que era imposta por estes dois “Caudilhos” cada um por sua vez se assemelhava a guerrilhas, a ofensivas rápidas e fulminantes. Era ataques violentos seguidos de fuga para se organizar e atacar de novo.
Já Solano Lopez por se tratar de um militar acostumado a lidar com o povo, e a ser amado, respeitado, ou temido pelo povo de seu país que sempre lhe dava soldados para compor seu exército, que por várias vezes parecia estar extirpado e se reformulava como que por milagre, graças ao gênio militar que sem dúvida este grande Caudilho possuía. No entanto esse vigor e essa afronta de Lopez ao vizinhos do Prata, não foram suficientes para sobrepujar as forças aliadas comandadas pelo Conde de Caxias que soubera organizar, administrar, motivar e mostrar o caminho da vitória aos aliados.
Se a vitória tivesse sido de Lopez com certeza o mapa das Américas poderia ser diferente e o Brasil certamente não contaria com boa parte de seu território, principalmente o extremo sul.
Na política Caxias ocupou o seu primeiro cargo politico como presidente da província do Maranhão logo após sufocar as revoltas conhecidas como “Balaiada “e “Cabanagem”. Caxias usou de estratégias militares condenadas por seus opositores como uma rede de intrigas para desorientar os revoltosos. Foi usada também outra estratégia que mais tarde também seria usada na campanha da contra a Farroupilha: Ele buscou aliados entre os revoltosos oferecendo anistia á aqueles que quisessem depor as armas e com a ajuda destes perseguiu os demais e imobilizou toda a revolta. A batalha decisiva foi na cidade de Caxias, no Maranhão, onde foi a luta decisiva contra os revoltosos. Depois de finda a campanha, Luiz Alves de Lima e Silva recebeu o título de Barão em reconhecimento aos seus trabalhos valorosos ao Brasil. Caxias era o nome da cidade do Maranhão onde se deu a luta decisiva contra os revoltosos. Ao término da campanha ele ainda ficou na região como presidente da província do Maranhão, um cargo de grande prestígio.
Outra grande campanha militar da qual Caxias participou foi a Farroupilha que durou vários anos .
Depois de finda a campanha da Farroupilha houve por bem segundo a visão dos políticos do Brasil de então, nomear Caxias presidente da província do Rio Grande.
Caxias ficou escrito na história brasileira como o grande líder das forças militares que conseguiu acabar com rebeliões e revoltas do período regencial da historia brasileira e do Império de D. Pedro II, mas seu nome foi elevado ao posto de grande herói do Exército Brasileiro somente no século XX, durante o governo de Getúlio Vargas. Anteriormente Osório tinha um maior espaço dentre as comemorações do Exército Brasileiro,mas diante da necessidade de um Estado forte, que se propunha após 1930, seu nome pareceu mais adequado ao papel de Mito e Herói Brasileiro.
O historiador Celso Furtado diz que Caxias se prestava mais a esse papel.[4]
“Após a revolução de 1930, a imagem que se evocava de Caxias passou a destacar cada vez mais sua autoridade e suas qualidades de chefe militar a serviço de um estado forte. A importância do culto a Osório foi diminuindo, até que, na década de 1940, ele foi deslocado para a posição de “Patrono da cavalaria”. Isso não ocorreu sem que surgissem discordâncias entre os próprios militares. Prevaleceu no entanto o peso da autoridade.”

Outro lado que poucos conhecem no aspecto da personalidade de Caxias, é o Caxias poeta que chegou a escrever alguns versos que dedicara a sua filha Paulita que são de bom gosto poético e apesar de estarem escritos no álbum de sua filha, Affonso de Carvalho entende que eles se referem ao antigo amor de caxias Ângela Garzón, que conhecera antes de se casar com Ana Luiza, a mãe de seus filhos. Deste casamento advém 2 filhas e um filho. O menino morre ainda em tenra idade.
Pode-se concluir que Caxias foi um grande brasileiro que soubera agarrar com unhas e dentes as oportunidades que lhe surgiram pela frente e que longe de ser alguém que não têm nenhum defeito ou falha serviu bem ao governo do país em seu tempo e a sua memória é valorizada principalmente pelo Exército Brasileiro por ser um nome que elevou e deu orgulho aos membros deste Exército trazendo a vitória nos seus empreendimentos.
Os historiadores que têm o compromisso com a verdade, devem estar acima das paixões e saber ler nas entrelinhas das biografias e histórias oficiais os fatos como foram e ouvir todas as representações que se fazem destes mesmos fatos. O fato é que a história que se sobrepõe as demais é a historia dos vencedores, aos vencidos só resta muitas das vezes lamentar e pensar nos “ses” da História.
É inconcebível que leiamos qualquer coisa sem pensar e criticar, mas é preciso entender que a historiografia segue um caminho que parece ser o que mais interessa aos ouvidos e aos olhos de quem a patrocina. Se Caxias não foi o grande mito, que tanto os livros e a historiografia oficial quer oficializar, cabe a nós investigar sem contudo esquecer da importância dos mitos para a constituição e a manutenção de uma nação.

Referências Bibliográficas:
CARVALHO, Afonso. Caxias. Rio de Janeiro. Biblioteca do Exército,1976.

FURTADO, Celso. “Culto ao Mito”. Artigo publicado na Revista História Viva de Abril de 2004, nas páginas 46 e 47.

SOUZA, Octaviano Pereira de. “História da Guerra do Paraguai” Citado por Affonso de Carvalho. Pag.. 236 do Livro “Caxias”.

SOUZA, Adriana Barreto de.“O exército na consolidação do Império: um estudo sobre a política militar conservadora”. in Revista História Viva na Edição de Setembro de 2004.

SOUZA, Adriana Barreto de. Revista História Viva, Setembro de 2004. Pag.30.“O homem por trás do monumento Duque de Caxias.”








Geraldo Henrique de Mesquita.
[1] Adriana Barreto de Souza é historiadora e autora do livro: “O exército na consolidação do Império: um estudo sobre a política militar conservadora”. O trecho foi retirado de seu artigo publicado na Revista História Viva na Edição de Setembro de 2004.
[2] “O homem por trás do monumento Duque de Caxias.” in revista História Viva, Setembro de 2004. Pag.30.

[3] Octaviano Pereira de Souza. “História da Guerra do Paraguai” Citado por Affonso de Carvalho. Pag.. 236 do Livro “Caxias”.
[4] Celso Furtado. “Culto ao Mito”. Artigo publicado na Revista História Viva de Abril de 2004, nas páginas 46 e 47.

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